quinta-feira, 11 de março de 2010

Heilige Tod - Manuel de Freitas

Não é uma fotografia artística.
Se fosse, não falaria dela.
Estou ao lado do meu avô,
pareço feliz e ele também,
encostados a sorrir, debaixo
de uma buganvília. A alegria
dele é simples, muito de avô sentado
de chapéu de feltro antigo.
A minha, por sua vez, segura
na mão a caixa de soldados nazis
que matavam ou morriam,
obedecendo a uma inocente decisão.

Ainda existirão soldadinhos?
Agora, com a idade que
tenho na mesma fotografia,
pegam numa arma e matam
porque sim, dispensando intermediários,
simulacros, lúdicas simulações.
Terão talvez maior razão, não sei.
Têm, seguramente, uma eficácia maior:
matam em vez de quererem matar.
E é belo, sempre o soubemos,
este paiol de esterco chamado humanidade.

Ninguém, da fotografia, sobreviveu.

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