sábado, 29 de janeiro de 2011

Discorrendo a perna pela fundamental luminosidade do quarto em busca de uma falta de cuidado que traduza uma estudada face de desprezo pelo mundo.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Desfiar a vontade de encontrar em ti a verdade que já não procuro.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A puta da vontade de escrever impõe-me uma necessidade de atirar a alma para a máquina da roupa e déixá-la na centrifugação. Depois, de olhos arregalados e pestanudos, com uma pinça, arranco com jeitinho uma ideia que servirá para algo...

sábado, 22 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Sempre me deixou estupefacta a arte da tecelagem. Os gestos repetitivos, a mesma figura exausta e sem entusiasmo que se entrelaça naquelas lãs também. Nunca pude deixar de imaginar o percurso dos minúsculos pedaços de lã que se espalham pela sala (aqueles que provocam comichão no nariz).

Começavam por se afastar da tela, rastejando humilde e silenciosamente até aos pulsos da desatenta donzela (pela mão passavam depressa pela sua movimentação maquinal). Depois detinham-se, na face interna, doce e delicadamente, para tentar provocar algum pequeno esgar de prazer à trabalhadora. Ignoradas, seguiam caminho pelo braço, cotovelo, apanhavam o atalho pelo decote da jovem e arranhavam o seu colo rude e seco. Foi fácil continuar a subir pelas precoces rugas que lhe percorriam toda a cara e entrar-lhe gentilmente pela comissura da boca. Aaaah, e deleitaram-se a pensar em tudo o que iriam encontrar.

Mas... Depois de um longo percurso, perceberam então que existia um novelo de lã enrolado diligentemente ao seu coração e que o impedia de sentir. Tinham abandonado o tapete para viver dentro de outro ser morto.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Lambo os dedos que me sabem a um novo pedaço de sujo reconhecimento.
Familiar. Meu? Estranho. Constato uma nova presença. Saboreio outra vez.
Agora há canela, açafrão e algo novo, talvez a distância.
Deambulo pela sala e penso o quanto odeio a falta de linguagem coloquial que impera em toda a puta literatura actual. Penso na beleza poética do sangue a escorrer perto de mentes que divagam noutro sentido, na indiferença das pessoas que se sentam lado a lado, no sacrifício existente na espera de quem só busca um pouco de atenção. Foda-se, foda-se, foda-se.
Fuma mais um cigarro, enquanto te escorre um pouco de verde nos cornetos do nariz, dilatam-se os canais lacrimais para expulsar mais um pouco do exsudado purulento que acompanha o nosso maravilhoso inverno.
Ah, mais alguém que me espirre para cima, trazendo toda a nhanha nojenta cheia de ódio ao próximo. A tosse é só mais uma forma de deixarmos a nossa print no sujeito alheio.
Dactilografar pequenas parvoíces aqui era algo de bem mais divertido quando a preocupação de escrever algo estúpido não existia. A busca de algo inteligente para escrever vai devastando o processo criativo que se torna mais obediente, mais circunscrito.

Mas oh,

depois reparo que se construirmos uma escada conseguimos chegar mais alto... E sigo nas curvas de um pensamento que me leve mais longe, no sonho que paira mais alto.

E caio.

E permaneço sem nada de interessante escrito.
Mas o processo foi divertido.