quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Deixemo-nos de merdas. Não sou poeta.

Mas apetece-me escrever hoje.
Concentremos a purga num evento único marcante e deixemo-nos cair na tentação de escolher aquele que discorre entre a vida e a morte.
A total ausência de capacidade de se deixar derrotar pela Morte (flashnews: ela ganha sempre) é aquilo que caracteriza todos os profissionais de saúde. Era de fait caricata a cena de ver os médicos todos emproadinhos que se acotovelam todas as manhãs para estar mais perto do chefe agora iguais. Com o suor a escorrer da testa. As gotas de suor que lhe escorriam pelas costas. Os braços esticados sobre um torax que castigam uma e outra e ainda outra vez a um ritmo certo de 100/min na tentativa de expulsá-la. A Ela. Mas permanece na sala sorridente. Desdenhosa.
Os ombros condensam a massa muscular que se junta ao rio de força. Suor. Massa encefálica que discorre nas decisões. Mais fármacos. Mais fármacos. Segue a dança. Para 10s. Avalia o ritmo. Não desfibrilhável. Continua. Com força mais força tens de bombear o sangue a todos os orgãos. Ouve bem o que te dizem. Como assim não compreendes? Estás viva? Consegues? Respira fundo. Ouve outra vez.
Sangue. Sangue. Sangue.
Ar. Ar. Ar.
Os músculos continuam a mover-se a uma cadência linear.
Mais. Mais. Mais.



Ele morreu. E eu também.

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