domingo, 25 de outubro de 2009
Donde vive el amor?
Vive no vento que agita os ramos das árvores no Inverno, no sorriso sincero de uma criança, vive nas rugas de quem viveu feliz, vive aqui e ali, saltando e pulando entre balões vermelhos e azuis e verdes, encontra-se na leveza das asas de uma borboleta, habita num moinho desfeito construído somente no coração de Quixote, no dourado e no prata, na vida e na morte, no toque...
ooooh, o amor vive tanto no toque, quando te toco, e te sinto com as pontas dos dedos, no etéreo, no inexistente, na verdade dos teus sentidos que eu também partilho.
Quero sentir-te e ao Amor, à loucura de empurrar-te quando quero sentir-te mais perto, os beijos que te são dedicados mas não conseguem esconder um sorriso que não se esborrata, não é uma maquilhagem barata, é real, é vivo.
Voz e silêncio
do Paco Bandeira
Já estou farta de estar só
Acompanhada de nada
Já estou louca de ser rua
Tão corrida tão pisada
Já estou prenhe de amizade
Tão barriga de saudade
Ai eu ainda um dia irei rasgar a solidão
E nela entrelaçar
O olhar de uma canção
Chegar ao cume, ao cimo, ao alto
Mais longe e mais além
Mas a saber que sou alguém
Na cidade sou loucura
Sou begónia sou ciúme
E eu que sonhava ser rua
Caminho atalho lonjura
Não tenho assento na festa
Sou a migalha que resta.
Ai eu ainda um dia irei rasgar a solidão
E nela entrelaçar
O olhar de uma canção
Chegar ao cume, ao cimo, ao alto
Mais longe e mais além
Mas a saber que sou alguém
sábado, 24 de outubro de 2009
Desconstrução do ser
E que bem que o ocupa!
Live large and live free!
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Encontrava-me no meio do bosque, de calções e anorak vermelho. Carregava um cestinho de amoras silvestres temperado com as dezenas de folhas pequenas que não tive paciência para separar das mesmas.
Sentei-me numa rocha e reparei como a minha vida ultimamente era semelhaante áquela colheita... Um acto mecânico para obter algo que me dá prazer, mas sem a minúcia própria dos processos que são levados a cabo com paixão.
Perdi aquilo que me caracteriza...
ALguém chegou com uma máquina fotográfica e ficou abismado com a minha facies triste e esborratada de amoras recém desfeitas contra os lábios. Não sobrou nem uma mancha vermelha no cesto para testemunha de tal pequenino processo filosófico.
Just an astonishment...
domingo, 18 de outubro de 2009
The sound of failure - the flaming lips
From the inside out
Sound of failure calls her name
She's decided to hear it out
So go tell Britney
And go tell Gwen
She's not trying to go
Against all them
Because she's too scared, and she
She can't pretend
To understand where it begins or ends
Or what it means to be dead
It's just a sound going through your head
Let them go on, let them go on
Standing there in the graveyard
While the moon sprays its fireworks in your hair
The sound of failure calls her name
She's decided to hear it out
So go tell Britney
And go tell Gwen
She's not trying to go
Against all them
Because she's too scared, and she
She can't pretend
To understand where it begins or ends
Or what it means to be dead
It's just a sound going through your head
Let them go on, let them go on
Where it begins or ends
What it means to be dead
It's just a sound going through your head
Let them go on, let them go on
Where it begins or ends
Or what it means to be dead
It's just a sound going through your head
Let them go on, let them go on
She doesn't know where it will take her
And she's going into the unknown
Anna (go to Him)
Anna,
You come and ask me, girl,
To set you free, girl,
You say he loves you more than me,
So I will set you free,
Go with him.
Go with him.
Anna,
Girl, before you go now,
I want you to know, now,
That I still love you so,
But if he loves you mo’,
Go with him.
All of my life,
I’ve been searchin’ for a girl
To love me like I love you.
Oh, now.. But every girl I’ve ever had,
Breaks my heart and leave me sad.
What am I, what am I supposed to do.
Oh…
Anna,
Just one more thing, girl.
You give back your ring to me, and I will set you free,
Go with him.
Chorus
Anna,
Just one more thing, girl.
You give back your ring to me, and I will set you free,
Go with him.
you can go with him, girl
Go with him
A rush of blood to the head
I go nuts again… Resumiu-se a isso, foi mesmo só uma serie de hormonas que me invadiram o cérebro e me fizeram sentir que me imiscuí em ti?
Where is the line between scientific and insanity?
That quizzy joker smile that drove me to happyness? Was it happiness? What is happiness actually? Has that something to do with that electricity?
Tenerte en mis brazos no sería lógico, me encuentro tal vez un poco enamorada de un momento qu no significó tanto cuanto yo quería… Quizá sea una niñata caprichosa y tontita que cree en el amor. Me aburre el hecho de que eso me distinga del resto de las personas… Nadie cree en ello…
Maybe I have this unacceptance of the fact that Santa Claus does not exist, and I reproduce it in the believe that True Love exists…
Mas talvez seja só uma farsa, uma mentira que inventamos para tornar a existência mais suportável…
Sinto…
É um boicote constante, como se me estivesse a impedir de ser tudo aquilo que posso ser… Tenho de querer tanto quanto quero, mas começar a ter coragem de concretizar mais… Tenho saudades de mim…
Mas agora com mais calma, agora com mais substância, agora mais productiva e com mais força…
I want to let myself out…
O ANJO DE PEDRA
Tinha os olhos abertos e não via.
O corpo todo era saudade
de alguém que o modelara e não sabia
que o tocara de maio e claridade.
Parava o seu gesto onde pára tudo:
no limiar das coisas por saber
- e ficara surdo e cego e mudo
para que tudo fosse grave no seu ser.
XII - Eugénio de Andrade
Se vens à minha procura
eu aqui estou. Toma-me, noite,
Sem sombra de amargura, consciente do que dou.
Nimba-te de mim e de luar.
Disperso em ti serei mais eu.
E deixa-me derramado no olhar
de quem já me esqueceu.
Até porque os casados pagam mais impostos…
“Meu casto
e puro amor provinciano
não percas tempo
acendendo velas
no teu oratório:
nenhum santo
nem eu
estamos na disposição
de fazer o milagre
do teu casamento”
Eugénio de Andrade
Acerca de Eugénio de Andrade - Jorge de Sena
“Os amantes sem dinheiro” - Eugénio de Andrade
Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cadadia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.
67
This is the day…
Hoje começou…
O enorme desafio que compreende desenharmo-nos a nós próprios
Agora, livre de amarras…
Infeliz é certo, mas de que outra forma se podem descobrir os limites da pele?
Onde acaba verdadeiramente o meu ser?
E descubro que é tão vasto…
Que cobre o horizonte
Que extensões da minha pele me chegam nos miminhos dos Amigos
Chega-me o carinho de quem me ama
Não, não preciso de voar, porque sinto-me no Mundo, do Mundo
Quero-te, Mundo, e quero-te inteiro!
Já chega de traições com dejectos
Agora tu, existencialismo!
Vem ter comigo, ópera!
Quero conhecer-te melhor, JAZZ!
Sinto vontade de ti, poesia!
Quero sentir tudo com loucura!!
Vou pegar naquilo que tenho sido nos últimos sete anos e construir o melhor de mim
Porque posso!
Porque sei!
Porque amo!
Uma atitude poética
«Tenho dedicado grande parte da minha vida ao estudo da música erudita e ao Jazz. Como artista sinto-me um eterno estudante. Existem certas ferramentas e regras para improvisar que devem ser praticadas e desenvolvidas ao longo dos anos. Para continuar a evoluir necessito quebrar essas regras, libertar-me das formas, não me restringir a lugares comuns ou a compartimentos estanques dos idiomas do jazz. Continuo por isso a estudar para alcançar a liberdade total. Felizmente estudei as regras para melhor as quebrar.»
Carlos Barretto
Miragem
Afinal eras só um desejo,
Nada havia de real no que senti
Uma pura quimera da minha psyche aborrecida
Um produto pouco real com o qual me andei a divertir ao longo de um ano
(Small children at the bottom of the scenary, scream “All a lie! All a lie!”)
Nada
Mas não foi divertido
E a mente ganha novamente, nada do que me circula no coração ganha vida
São só meras ilusões
Transparentes, translúcidas, fantasmagóricas
Corre-me a lágrima sobre a face seca, enrugada, em clivagem
Mas a lágrima só magoa mais a certeza do deserto
A certeza que nada mais existe para além da próxima duna
Morreu o sonho, que se alimentava demasiado das minhas forças
(porque não era verdadeiro)
Agora as forças para o próximo, agora algo real (por favor)
Eugénio de Andrade - Procuro-te
Procuro a ternura subita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiracao e’ doce,
um passaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.
Oh, a caricia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da agua entre o azul
do prado e de um corpo estendido.
Procuro-te: fruto ou nuvem ou musica.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pao e a agua,
a cama e a mesa,
os pequenos e doceis animais,
onde tambem quero que chegue
o meu canto e a manha de maio.
Um passaro e um navio sao a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que ha diferencas,
mas nao quando se ama,
nao quando apertamos contra o peito
uma flor avida de orvalho.
Ter so dedos e dentes e’ muito triste:
dedos para amortalhar as criancas,
dentes para roer a solidao,
enquanto o verao pinta de azul o ceu
e o mar e’ devassado pelas estrelas.
Porem eu procuro-te.
Antes de a morte se aproximar, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com odio, ao sol, a chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.
Jorge Palma - Deixa-me rir
Deixa-me rir
Essa história não e tua
Falas da festa, do sol e do prazer
Mas nunca aceitaste o convite
Tens medo de te dar
E não e teu o que queres vender
Deixa-me rir
Tu nunca lambeste uma lágrima
Desconheces os cambiantes do seu sabor
Nunca seguiste a sua pista
Do regaço à nascente
Não me venhas falar de amor
Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor, o que vai dizer
Segunda feira
Deixa-me rir
Tu nunca auscultaste esse engenho
De que falas com tanto apreço
Esse curioso alambique
Onde são destilados
Noite e dia o choro e o riso
Deixa-me rir
Ou entao deixa-me entrar em ti
Ser o teu mestre so por um instante
Iluminar o teu refúgio
Aquecer-te essas mãos
Rasgar-te a mascara sufocante
Pois é, pois é
Ha quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor, o que vai dizer
Segunda feira
Estranho estrangeiro
Vi tudo o que fui, quando fomos, em lampejos oníricos de uma vigília oscilante. Dispunha de poder para entrar e sair do sonho, porque o telefone tocou, e eu alertei-te: “vou atender a realidade, e já volto”. Quando regressei, tu já não estavas. Não sei se o sonambulismo pode ilibar-me, porque julgo que dormia. Procurei-te na agonia terminal dos devaneios interrompidos, como nos tempos em que a porta se abria, de manhã, e a voz rouca da mãe me impunha a escola. Naquele transe indefinido, vivi dentro dos tempos moles de Dali, na agulha inexistente dos segundos, desfeita pela voracidade com que errava entre as horas abismais do sonho que eras, e o tempo indefinido do pesadelo que és.
Tu já não me esperavas, quando regressei à sombra onde nos fundíamos. Na cavidade do sonho, somos omnipotentes, e a única diferença entre nós esteve nos meses que duraram a minha incursão pela realidade. Não deixei de te sonhar, entre as vagas do Atlântico, mas morri afogado quando me pensava suspenso, numa apneia longa. Mataste-me, e eu não percebi. Mas como morri dentro do sonho, pude ressuscitar nele. A tua ausência não me preocupou, e a um morto tudo é permitido. Refiz-te a partir de uma gota de suor que legaste ao meu sepulcro de sonhos, em cuja lápide reescrevo, todos os dias, o teu nome em lágrimas incandescentes. Ao lado da gotícula, encontrei um suspiro teu, exangue, quase ido. Quando o suguei, os ecos do teu adeus trepidaram pelo meu corpo de morto, num “desculpa” soluçante. Fiz amor com o que consegui reconstruir de ti, retirando das minhas mãos todos os teus suores guardados, e da alma todo o ar que te roubei.
Bob Dylan - Idiot Wind
Someone’s got it in for me, they’re planting stories in the press
Whoever it is I wish they’d cut it out quick but when they will I can only guess
They say I shot a man named Gray and took his wife to Italy
She inherited a million bucks and when she died it came to me
I can’t help it if I’m lucky.
People see me all the time and they just can’t remember how to act
Their minds are filled with big ideas, images and distorted facts
Even you yesterday you had to ask me where it was at
I couldn’t believe after all these years you didn’t know even me better than that
Sweet lady.
Idiot wind blowing every time your move your mouth
Blowing down the backroads heading south
Idiot wind blowing every time you move your teeth
You’re an idiot babe
It’s a wonder that you still know how to breathe
I ran into the fortune-teller who said beware of lightning that might strike
I haven’t known peace and quit for so long I can’t remember what it’s like
There’s a lone soldier on the cross smoke pouring out of a boxcar door
You didn’t know it you didn’t think it could be done in the final end he won the wars
After losing every battle.
I woke up on the roadside daydreaming about the way things sometimes are
Visions of your chestnut mare shoot through my head and are making me see stars
You hurt the ones that I love best and cover up the truth with lies
One day you’ll be in the ditch, flies buzzing around your eyes
Blood on your saddle.
Idiot wind blowing through the flowers on your tomb
Blowing through the curtains in your room
Idiot wind blowing every time you move your teeth
You’re an idiot babe
It’s a wonder that you still know how to breathe.
It was gravity which pulled us down and destiny which broke us apart
You tamed the lion in my cage but it just wasn’t enough to change my heart
Now everything’s a little upside down, as a matter of fact the wheels have stopped
What’s good is bad what’s bad is good you’ll find out when you reach the top
You’re on the bottom.I noticed at the ceremony, your corrupt ways had finally made you blind
I can’t remember your face anymore, your mouth has changed your eyes don’t look
into mine
The priest wore black on the seventh day and sat stone faced while the
building burned
I waited for you on the running boards, near the cypress trees while the
springtime turned
Slowly into autumn.
Idiot wind blowing like a circle around my skull
From the Grand Coulee Dam to Capitol
Idiot wind blowing every time you move you teeth
You’re an idiot babe.
It’s a wonder that you still know how to breathe.
I can’t feel you anymore, I can’t even touch the books you’ve read
Every time I crawl past your door, I been wishing I was somebody else instead
Down the highway down the tracks down the road to ecstasy
I followed you beneath the stars hounded by your memory
And all you raging glory.
I been double-crossed now for the very last time and now I’m finally free
I kissed goodbye the howling beast on the borderline which separated you from me
You’ll never know the hurt I suffered not the pain I raise above
And I’ll never know the same about you your holiness or your kind of love
And it makes me feel so sorry.
Idiot wind blowing through the buttons of our coats
Blowing through the letters that we wrote
Idiot wind blowing through the dust upon our shelves
We’re idiots babe
It’s a wonder we can even feed ourselves.
Cry me a river
I hate that it ends as it has always ended…
It wasn’t supposed to be like that…
Not with you
Now you say you’re lonely
You cry the long night through
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
Now you say you’re sorry
For being so untrue
Well, you can cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
You drove me, nearly drove me, out of my head
While you never shed a tear
Remember, I remember, all that you said
You told me love was too plebeian
Told me you were through with me and
Now you say you love me
Well, just to prove that you do
Come on and cry me a river
Cry me a river
I cried a river over you
I cried a river over you
I cried a river…over you…
amei um potencial que é tão teu, mas não és tu…
E perdi-me num sonho do que não existe
E se realmente te amo, porque quereria mudar-te?!
Porque não te amo a ti, mas a ideia de ti. E essa morreu hoje porque eu descobri que a sombra é mais bela que o original. E agora não quero o original, nem a sombra.
E deixei de ser sombra, para ser novamente eu.
Acabou, então.
RIP
Mia Friedrich
para evitares ver a minha morte
Um dia eu gostava de pensar
Que és capaz de amar tanto.
Queria conseguir dizer.
Mas estou cansada de dizer coisas bonitas,
Acho, de verdade, que elas estão só comprometidas com os afectos de quem fica.
E ficar, quando se vê partir,
é ter o lugar desabrigado na estação.
É ficar incomunicável com quem parte
E com uma distância desajustada ao corpo que era próximo
E que vai ficando cada vez mais pequeno ao longe,
Tão pequeno que se torna um infinitesimal ponto na linha de visão.
E é a esse ponto que se acena, como um palhaço velho no circo,
Que limpa triste a máscara de tintas ao espelho
E sabe que não há muito por onde sorrir.
Como um palhaço que perde a deixa e sabe que não cativa,
Mas mesmo assim continua a pedir que a banda toque.
O amor eterno solta as últimas notas,
preso à saliva de um trompetista mal pago,
ao suor de um baterista com fome
e ao melancólico suspiro do domador de leões
a escutar a um canto.
O amor eterno, garatuja, fífia, nota ao lado,
O rosto do amado recolhido como tenda depois de fim-de-semana,
decalcado na terra, disposto ao último acto.
O vento. e mais nada.
Nem uma palavra tua que realmente me diga alguma coisa de verdade.
Que brilhe.
Demos um salto sem trampolim,
Para a queda.
herberto helder - excerto de “amor em visita”
“Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.
Ah! em cada mulher existe uma morte silenciosa;
e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.
Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.
E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.
Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.
Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.”
Walt Whitman
To a stranger
- PASSING stranger!
- you do not know how longingly I look upon you,
- You must be he I was seeking, or she I was seeking, (it comes to me as of a dream,)
- I have somewhere surely lived a life of joy with you,
- All is recall’d as we flit by each other, fluid, affectionate, chaste, matured,
- You grew up with me, were a boy with me or a girl with me,
- I ate with you and slept with you, your body has become not yours only nor left my body mine only,
- You give me the pleasure of your eyes, face, flesh, as we pass, you take of my beard, breast, hands, in return,
- I am not to speak to you, I am to think of you when I sit alone or wake at night alone,
- I am to wait, I do not doubt I am to meet you again,
- I am to see to it that I do not lose you.
E encontro-te de novo,
Renovado, com uma cara nova,
Mas ainda aquele que me enamora…
Quem me faz sonhar nos solitários dias de chuva
És quem traz cores alegres para o meu mundo
Puxas a lua por um fio para mim
Está aprisionada porque tu o desejas!
E dás-me, e fazes-me sentir,
Obrigas-me a ser de novo EU!
Arrancas-me lá do fundo tudo aquilo que eu sempre quis ser
E voltas…
E voltas, para me trazer a verdade, a confiança, a amizade!
E sinto a tua falta como nunca senti
Porque nunca estiveste aqui tão perto.
Tão próximo que quase te posso sentir
Mas não estás aqui
Não te toco, mas quero sentir-te…
E tragar o teu cheiro, inseri-lo dentro de mim
Como se mais um elemento do meu corpo fosse
E ter-te próximo
Fazes parte do mim…
Edgar Allan Poe - Israfel
“E o anjo Israfel, em quem as fibras do
coração formam um alaúde e que tem a
mais doce voz de todas as criaturas de
Deus.” (Alcorão)
Há no céu um espírito “em que as fibras
do coração formam um alaúde”.
Canção nenhuma tem a mágica virtude
do teu canto, Israfel! Quando a voz vibras,
os astros que andam no firmamento
(contam as lendas) em desatinos
cessam seus hinos,
emudecidos de encantamento.
Vacilante, flutua
no seu zénite a lua;
mas, se te ouve a canção,
enamorada, enrubescida de paixão,
a luz purpúrea no céu detém,
e as sete Plêiades, ante essa voz,
cessam também
a carreira veloz.
Diz o coro estrelado, a multidão
de astros que o ouvir-te encanta,
que deves, Israfel, a inspiração
ao alaúde de teu coração;
ele é que canta
quando, trémulas, vibras
as suas vivas, singulares fibras.
Mas os céus, Israfel, percorreste
onde cumpre um dever quem fundamente pensa
e onde o Amor é um deus sem par;
onde o olhar das huris se reveste
dessa beleza imensa
que só na estrela vamos adorar.
Tu não erras, portanto,
Israfel, se te esquivas
a um desapaixonado canto!
Sejam-te dados todos os louvores!
És o melhor, és o mais sábio dos cantores!
Feliz eternamente vivas!
Os êxtases do céu perfeitamente
se harmonizam com teu ritmo ardente;
teu pesar, a ventura, e ódio, e amor,
de tua lira se casam ao fervor.
Bem deve cada estrela estar silente!
Sim, teu é o Céu, mas esta Terra
é um mundo de doçuras e de dores;
nossas flores nada mais são que flores,
e o que de sombra encerra
tua perfeita ventura
é, para nós, a luz do sol mais pura.
Se eu, porém, Israfel, morasse onde viveste,
se vivesses onde eu
vivo, magicamente assim não poderias
cantar terrestres melodias;
e um hino mais audaz, talvez, do que este,
de minha lira iria arrojar-se no céu.”
F. Nietzsche
“Sem música, a vida seria um erro.”
“E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a musica.”
“O idealista é incorrigível: se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno.”
“Aquilo que não me destrói fortalece-me”
“Se minhas loucuras tivessem explicaçoes, não seriam loucuras.”
“Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.”
“Tudo evolui; não há realidades eternas: tal como não há verdades absolutas”.
“Vivemos num tempo em que civilização periga morrer por meio da civilização”
“Sobre a educação. Paulatinamente esclareceu-se, para mim, a mais comum deficiência de nosso tipo de formação e educação: ninguém aprende, ninguém aspira, ninguém ensina - a suportar a solidão”.
“A maturidade do homem consiste em haver reencontrado a seriedade que tinha nas brincadeiras de quando era criança”
“Alguém procura um parteiro para as suas idéias, um outro alguém que possa ajudar. E apartir daí, nasce uma boa conversa”.
“Um filósofo é um homem que experimenta, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente coisas extraordinárias. (…) Um filósofo, ah, um ser que foge, muitas vezes para longe de si mesmo, muitas vezes tem medo de si mesmo, mas que é demasiado curioso para que não ‘volte sempre a si’”.
“Áspero e suave, grosseiro e fino, / Familiar e estranho, impuro e puro, / Lugar de encontro dos loucos e dos sábios. / Tudo isso sou, tudo isso quero ser, / Ao mesmo tempo pomba, serpente e porco”.
“Odeio seguir alguém, como também conduzir. / Obedecer? Não! E governar, nunca! / Quem não se mete medo não consegue metê-lo a ninguém, / Somente aquele que o inspira é capaz de comandar. / Já detesto comandar a mim mesmo! / Gosto, como os animais, das florestas e dos mares, / De me perder durante um tempo, / Permanecer a sonhar num recanto encantador, E forçar-me a regressar de longe ao meu lar, / Atrair-me a mim próprio… de volta para mim”.
“É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.”
“Não poderia haver felicidade, jovialidade, esperança, orgulho, presente, sem o esquecimento”
“A arte existe para que a verdade não nos destrua.”
“O falso amor de si mesmo transforma a solidão em prisão.”
Florbela Espanca - Princesa Desalento
“Minh’alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida, e sombria,
Como soluços trágicos do vento!
É fágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso duma boca fria:
Minh’alma é a Princesa Desalento…
Altas horas da noite ela vagueia…
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
O luar ouve minh’alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta…”
Al Berto - Amor dos fogos
“…..vêm sôfregos os peixes da madrugada
beber o marítimo veneno das grandes travessias
trazem nas escamas a primavera sombria do mar
largam minúsculos cristais de areia junto à boca
e partem quando desperto no tecido húmido dos sonhos
…. vem deitar-te comigo no feno dos romances
para que a manhã não solte o ciúme
e de novo nos obrigue a fugir….
…. vem estender-te onde os dedos são aves sobre o peito
esquece os maus momentos a falta de notícias a preguiça
ergue-te e regressa
para olharmos a geada dos astros deslizar nas vidraças
e os pássaros debicam o outono no sumo das amoras….
…. iremos pelos campos
à procura do silente lume das cassiopeias… “
Al Berto - Equinócios de Tangerina
Terceiro
“ausente de mim, quando tiver cansado de ti, sem saber para onde fugir, tu estarás no meu tremer de frio que não existe, no sorriso de meu rosto de álcool. no meu susto de estar vivo, uma agulha costura os orgãos uns aos outros para que a dor não se espalhe pelo corpo. a dor, este feixe de nomes vibrando junto ao coração. um dia estarei longe, muito longe de mim e de ti. terei perdido o corpo que se sente, irremediavelmente.”