quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Florbela Espanca
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
Florbela Espanca
Alma perdida
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...
Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
Dalguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...
Florbela Espanca
Sem remédio
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!
Aqueles que me têm muito amor
Não sabem o que sinto e o que sou...
Não sabem que passou, um dia, a Dor
À minha porta e, nesse dia, entrou.
E é desde então que eu sinto este pavor,
Este frio que anda em mim, e que gelou
O que de bom me deu Nosso Senhor!
Se eu nem sei por onde ando e onde vou!!
Sinto os passos de Dor, essa cadência
Que é já tortura infinda, que é demência!
Que é já vontade doida de gritar!
E é sempre a mesma mágoa, o mesmo tédio,
A mesma angústia funda, sem remédio,
Andando atrás de mim, sem me largar!
Florbela Espanca
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!
Florbela Espanca
Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Bruta, bela, sangue, viva!!
Perscruto o mundo de olhos brilhantes e abertos
com ânsias de o comer inteiro
e abarcar uma
e outra e outra tragedia
tê-las todas cá dentro
coleccioná-las
fervê-las
mariná-las
juntar especiarias e carinho
amassar até o suor escorrer pela espinha abaixo
ser um anjo e servi-las, já redimidas,
com a 3ª de Strauss.
Perscruto o mundo de olhos brilhantes e abertos
com ânsias de o comer inteiro
e abarcar uma
e outra e outra tragedia
tê-las todas cá dentro
coleccioná-las
fervê-las
mariná-las
juntar especiarias e carinho
amassar até o suor escorrer pela espinha abaixo
ser um anjo e servi-las, já redimidas,
com a 3ª de Strauss.
Sugando dos corpos o que a puta da alma já não fornece,
escorro pelas ruas na esperança de um encontro.
Com quê, com quem? Sei lá, nem me
interessa
Rabisco nas paredes os pedaços de perfume que deixaste
na roupa e que só me encontram quando cogito, pensativa.
Luz, água, dor, fantástica prosa que faz escorrer os dias
Já sem fábulas ou iguarias
Só uma tremenda realidade que matarias, exsanguinarias, esventrarias
com vontade, vontade de me espetar novamente contra a parede
arrancar-me a joie de vivre e comê-la aos poucos
saboreá-la e deixá-la escorrer pelo pescoço abaixo
laranja, lânguida, doce, viva.
escorro pelas ruas na esperança de um encontro.
Com quê, com quem? Sei lá, nem me
interessa
Rabisco nas paredes os pedaços de perfume que deixaste
na roupa e que só me encontram quando cogito, pensativa.
Luz, água, dor, fantástica prosa que faz escorrer os dias
Já sem fábulas ou iguarias
Só uma tremenda realidade que matarias, exsanguinarias, esventrarias
com vontade, vontade de me espetar novamente contra a parede
arrancar-me a joie de vivre e comê-la aos poucos
saboreá-la e deixá-la escorrer pelo pescoço abaixo
laranja, lânguida, doce, viva.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
Strauss - 4 last songs
4. "Im Abendrot"
("At sunset") (Text: Joseph von Eichendorff)
Wir sind durch Not und Freude
gegangen Hand in Hand;
vom Wandern ruhen wir
nun überm stillen Land.
Rings sich die Täler neigen,
es dunkelt schon die Luft.
Zwei Lerchen nur noch steigen
nachträumend in den Duft.
Tritt her und laß sie schwirren,
bald ist es Schlafenszeit.
Daß wir uns nicht verirren
in dieser Einsamkeit.
O weiter, stiller Friede!
So tief im Abendrot.
Wie sind wir wandermüde--
Ist dies etwa der Tod?
We have gone through sorrow and joy
hand in hand;
Now we can rest from our wandering
above the quiet land.
Around us, the valleys bow;
the air is growing darker.
Just two skylarks soar upwards
dreamily into the fragrant air.
Come close to me, and let them flutter.
Soon it will be time for sleep.
Let us not lose our way
in this solitude.
O vast, tranquil peace,
so deep at sunset!
How weary we are of wandering---
Is this perhaps death?
Composed: May 6, 1948
("At sunset") (Text: Joseph von Eichendorff)
Wir sind durch Not und Freude
gegangen Hand in Hand;
vom Wandern ruhen wir
nun überm stillen Land.
Rings sich die Täler neigen,
es dunkelt schon die Luft.
Zwei Lerchen nur noch steigen
nachträumend in den Duft.
Tritt her und laß sie schwirren,
bald ist es Schlafenszeit.
Daß wir uns nicht verirren
in dieser Einsamkeit.
O weiter, stiller Friede!
So tief im Abendrot.
Wie sind wir wandermüde--
Ist dies etwa der Tod?
We have gone through sorrow and joy
hand in hand;
Now we can rest from our wandering
above the quiet land.
Around us, the valleys bow;
the air is growing darker.
Just two skylarks soar upwards
dreamily into the fragrant air.
Come close to me, and let them flutter.
Soon it will be time for sleep.
Let us not lose our way
in this solitude.
O vast, tranquil peace,
so deep at sunset!
How weary we are of wandering---
Is this perhaps death?
Composed: May 6, 1948
Strauss - 4 last songs
3. "Beim Schlafengehen"
("Going to sleep") (Text: Hermann Hesse)
Nun der Tag mich müd' gemacht,
soll mein sehnliches Verlangen
freundlich die gestirnte Nacht
wie ein müdes Kind empfangen.
Hände, laßt von allem Tun,
Stirn, vergiß du alles Denken.
Alle meine Sinne nun
wollen sich in Schlummer senken.
Und die Seele, unbewacht,
will in freien Flügen schweben,
um im Zauberkreis der Nacht
tief und tausendfach zu leben.
Now that I am wearied of the day,
I will let the friendly, starry night
greet all my ardent desires
like a sleepy child.
Hands, stop all your work.
Brow, forget all your thinking.
All my senses now
yearn to sink into slumber.
And my unfettered soul
wishes to soar up freely
into night's magic sphere
to live there deeply and thousandfold.
Composed: August 4, 1948
("Going to sleep") (Text: Hermann Hesse)
Nun der Tag mich müd' gemacht,
soll mein sehnliches Verlangen
freundlich die gestirnte Nacht
wie ein müdes Kind empfangen.
Hände, laßt von allem Tun,
Stirn, vergiß du alles Denken.
Alle meine Sinne nun
wollen sich in Schlummer senken.
Und die Seele, unbewacht,
will in freien Flügen schweben,
um im Zauberkreis der Nacht
tief und tausendfach zu leben.
Now that I am wearied of the day,
I will let the friendly, starry night
greet all my ardent desires
like a sleepy child.
Hands, stop all your work.
Brow, forget all your thinking.
All my senses now
yearn to sink into slumber.
And my unfettered soul
wishes to soar up freely
into night's magic sphere
to live there deeply and thousandfold.
Composed: August 4, 1948
Strauss - 4 last songs
2. "September"
(Text: Hermann Hesse)
Der Garten trauert,
kühl sinkt in die Blumen der Regen.
Der Sommer schauert
still seinem Ende entgegen.
Golden tropft Blatt um Blatt
nieder vom hohen Akazienbaum.
Sommer lächelt erstaunt und matt
In den sterbenden Gartentraum.
Lange noch bei den Rosen
bleibt er stehn, sehnt sich nach Ruh.
Langsam tut er
die müdgeword'nen Augen zu.
The garden is in mourning.
Cool rain seeps into the flowers.
Summertime shudders,
quietly awaiting his end.
Golden leaf after leaf falls
from the tall acacia tree.
Summer smiles, astonished and feeble,
at his dying dream of a garden.
For just a while he tarries
beside the roses, yearning for repose.
Slowly he closes
his weary eyes.
Composed: September 20, 1948
(Text: Hermann Hesse)
Der Garten trauert,
kühl sinkt in die Blumen der Regen.
Der Sommer schauert
still seinem Ende entgegen.
Golden tropft Blatt um Blatt
nieder vom hohen Akazienbaum.
Sommer lächelt erstaunt und matt
In den sterbenden Gartentraum.
Lange noch bei den Rosen
bleibt er stehn, sehnt sich nach Ruh.
Langsam tut er
die müdgeword'nen Augen zu.
The garden is in mourning.
Cool rain seeps into the flowers.
Summertime shudders,
quietly awaiting his end.
Golden leaf after leaf falls
from the tall acacia tree.
Summer smiles, astonished and feeble,
at his dying dream of a garden.
For just a while he tarries
beside the roses, yearning for repose.
Slowly he closes
his weary eyes.
Composed: September 20, 1948
Strauss - 4 last songs
1. "Frühling"
("Spring") (Text: Hermann Hesse)
In dämmrigen Grüften
träumte ich lang
von deinen Bäumen und blauen Lüften,
Von deinem Duft und Vogelsang.
Nun liegst du erschlossen
In Gleiß und Zier
von Licht übergossen
wie ein Wunder vor mir.
Du kennst mich wieder,
du lockst mich zart,
es zittert durch all meine Glieder
deine selige Gegenwart!
In shadowy crypts
I dreamt long
of your trees and blue skies,
of your fragrance and birdsong.
Now you appear
in all your finery,
drenched in light
like a miracle before me.
You recognize me,
you entice me tenderly.
All my limbs tremble at
your blessed presence!
Composed: July 20, 1948
("Spring") (Text: Hermann Hesse)
In dämmrigen Grüften
träumte ich lang
von deinen Bäumen und blauen Lüften,
Von deinem Duft und Vogelsang.
Nun liegst du erschlossen
In Gleiß und Zier
von Licht übergossen
wie ein Wunder vor mir.
Du kennst mich wieder,
du lockst mich zart,
es zittert durch all meine Glieder
deine selige Gegenwart!
In shadowy crypts
I dreamt long
of your trees and blue skies,
of your fragrance and birdsong.
Now you appear
in all your finery,
drenched in light
like a miracle before me.
You recognize me,
you entice me tenderly.
All my limbs tremble at
your blessed presence!
Composed: July 20, 1948
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Raphael - Cocorosie
Deep inside my heart and its splintered at its core
Molden curdle of milken puddle
Dreams of warm breasts settling in my mouth
To be my spouse make a bale and a house
Apple tree, drunken brawl domestically
Dirty dog dusty pawed bloody nose rose embroidered sheets
Dangle like women in the breeze on a line above the yard
In my heart a flower dies slow like a campfire covered
In piss mellows like snow fall
Find More lyrics at www.sweetslyrics.com
Mellows like snow fall
Raphael you know just how
To take me in the swimming pool
Like a child being baptized
Beneath the starry sky we lie
Drowning in your watery thighs
Luscious eyes
You a teenage player
In my heart an island sinks slow
Tears fall in the kitchen sink O
Don't speak I can hear you
Don't speak I can hear you
Molden curdle of milken puddle
Dreams of warm breasts settling in my mouth
To be my spouse make a bale and a house
Apple tree, drunken brawl domestically
Dirty dog dusty pawed bloody nose rose embroidered sheets
Dangle like women in the breeze on a line above the yard
In my heart a flower dies slow like a campfire covered
In piss mellows like snow fall
Find More lyrics at www.sweetslyrics.com
Mellows like snow fall
Raphael you know just how
To take me in the swimming pool
Like a child being baptized
Beneath the starry sky we lie
Drowning in your watery thighs
Luscious eyes
You a teenage player
In my heart an island sinks slow
Tears fall in the kitchen sink O
Don't speak I can hear you
Don't speak I can hear you
domingo, 24 de outubro de 2010
domingo, 17 de outubro de 2010
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Frases dispersas de Tonino Guerra - O mel
"O sol enfia-se pelo buraco
da agulha que Filomena tem na mão."
"A uma velha quase a chegar ao fim
pegou-se-lhe fogo à roupa e lá se foi tudo, roupa, tempo e feitio."
"Eu e meu irmão bebemos metade cada um
e comparámos a água do poço
com a do céu que é mais escorregadia
e contudo tem o sabor a relâmpagos."
"Primeiro procurava um prego,
a seguir um botão, depois queria beber café
e agora preciso que me digas alguma coisa,
nem que seja uma tolice."
"Este verão chegou essa juventude
de meia tigl que mete o nariz em tudo
e que está sempre em viagem, nas traseiras dos camiões
ou deitada por baraças, em busca de África."
"Estavam deitados em duas pequenas camas,
divididas apenas pr uma cadeira
de costas voltadas um para o outro,
mas as suas mãos permaneciam dadas."
da agulha que Filomena tem na mão."
"A uma velha quase a chegar ao fim
pegou-se-lhe fogo à roupa e lá se foi tudo, roupa, tempo e feitio."
"Eu e meu irmão bebemos metade cada um
e comparámos a água do poço
com a do céu que é mais escorregadia
e contudo tem o sabor a relâmpagos."
"Primeiro procurava um prego,
a seguir um botão, depois queria beber café
e agora preciso que me digas alguma coisa,
nem que seja uma tolice."
"Este verão chegou essa juventude
de meia tigl que mete o nariz em tudo
e que está sempre em viagem, nas traseiras dos camiões
ou deitada por baraças, em busca de África."
"Estavam deitados em duas pequenas camas,
divididas apenas pr uma cadeira
de costas voltadas um para o outro,
mas as suas mãos permaneciam dadas."
Tonino Guerra - O Mel - Canto Décimo Segundo
Se chove parece que a água te lava os ossos,
se vem tempestade chega-te aos ombros
uma enxurrada de gafanhotos que saltam.
A névoa apaga até os pensamentos
e permanecem velas acesas
ardendo no cérebro.
Duas ou três noites atrás a neve cobriu
as estradas e os campos
e pela madrugada eu e meu irmão
avistámos grandes pegadas
de um estranho animal. Um urso?
Começavam nas primeiras casas da aldeia
e acabavam de repente no meio da praça
como se tivessem voado."
se vem tempestade chega-te aos ombros
uma enxurrada de gafanhotos que saltam.
A névoa apaga até os pensamentos
e permanecem velas acesas
ardendo no cérebro.
Duas ou três noites atrás a neve cobriu
as estradas e os campos
e pela madrugada eu e meu irmão
avistámos grandes pegadas
de um estranho animal. Um urso?
Começavam nas primeiras casas da aldeia
e acabavam de repente no meio da praça
como se tivessem voado."
Tonino Guerra - O Mel - Canto Oitavo
"Este ano as folhas secas ficaram presas aos ramos
porque não sopra fio de vento
e as árvores parecem «fogueiras» em chamas.
Lá em baixo em Montebello, nos rasos do Marecchi,
existe um convento abandonado há cem anos
com um claustro entupido de nogueiras.
Eu e meu irmão passámos por um buraco
para caminhar debaixo das plantas que tinham
suspensa sobre os ramos um nuvem vermelha.
Quando soamos os sinos
o ar agitdo do repique abateu as folhas
e de súbito todas as árvores se despiram."
porque não sopra fio de vento
e as árvores parecem «fogueiras» em chamas.
Lá em baixo em Montebello, nos rasos do Marecchi,
existe um convento abandonado há cem anos
com um claustro entupido de nogueiras.
Eu e meu irmão passámos por um buraco
para caminhar debaixo das plantas que tinham
suspensa sobre os ramos um nuvem vermelha.
Quando soamos os sinos
o ar agitdo do repique abateu as folhas
e de súbito todas as árvores se despiram."
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Dandy me, dandy you
Enrolou com destreza a mecha de cabelo à volta do dedo longilíneo e arstocrático, enquanto olhava com desprezo para a criança de roupinha perfeita que enterrava a cara já muito açucarada no algodão doce, jovial e alegremente.
Acendeu um fósforo e ficou feliz com essa imagem de destruição.
Acendeu um fósforo e ficou feliz com essa imagem de destruição.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Ruptura
Sempre achei que a leitura era uma forma de contactar com realidades que nunca poderei vivenciar. E depois comecei a escrever. E vi então, que o escritor não é alguém que tem muitas coisas para contar por causa da fantástica vida que tem. O escritor é só alguém um pouco mais sensível que olha para a imagem que toda a gente vê todos os dias e dá-lhe um significado diferente, fazendo despontar um sorriso (mental ou físico).
Mas não vale a pena ter uma visão diferente se ela não é partilhada. Verifico então que é o leitor (essa posição que sempre me pareceu tão solitária) quem dá razão ao escritor para continuar...
Boa tarde, pessoas!
Mas não vale a pena ter uma visão diferente se ela não é partilhada. Verifico então que é o leitor (essa posição que sempre me pareceu tão solitária) quem dá razão ao escritor para continuar...
Boa tarde, pessoas!
domingo, 3 de outubro de 2010
Encostei-me ao parapeito
neste dia de chuva intensa
debrucei-me mais um pouco
e acendi o cigarro
Obriguei o meu olhar a descer à terra
e encontrei a Praça da Alegria
(curioso nome o deste local)
Havia a meio do jardim, um senhor sentado
numa chaise longue de veludo vermelho
a ler o jornal.
Ladeava-o um bêbado
(desses de boné na cabeça que fumam o cigarro
com a mesma sofreguidão com que desperdiçam a vida)
que constantemente lhe exigia a atenção
que diligente e arrogantemente lhe era negada
mais à esquerda circulava um casal de namorados
que se olhavam ou falavam
trôpegos, perdidos na energia do sentir,
sem paciência para a ridícula realidade que os circundava.
E no meio, uma menina princesa de vestido chocolate respira furiosamente porque nada vai ficar bem. Que cansaço tão profundo. A ausência de forças.
Fim da história. O cigarro acabou.
neste dia de chuva intensa
debrucei-me mais um pouco
e acendi o cigarro
Obriguei o meu olhar a descer à terra
e encontrei a Praça da Alegria
(curioso nome o deste local)
Havia a meio do jardim, um senhor sentado
numa chaise longue de veludo vermelho
a ler o jornal.
Ladeava-o um bêbado
(desses de boné na cabeça que fumam o cigarro
com a mesma sofreguidão com que desperdiçam a vida)
que constantemente lhe exigia a atenção
que diligente e arrogantemente lhe era negada
mais à esquerda circulava um casal de namorados
que se olhavam ou falavam
trôpegos, perdidos na energia do sentir,
sem paciência para a ridícula realidade que os circundava.
E no meio, uma menina princesa de vestido chocolate respira furiosamente porque nada vai ficar bem. Que cansaço tão profundo. A ausência de forças.
Fim da história. O cigarro acabou.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Chego a casa e abro a veneziana da sala
reparo que não combina bem com o tapete e isso incomoda-me
cria-me um aperto no peito que se instala e não me larga
Abro as portadas da janela
Descalço-me
(estranhamente, sinto-me um pouco mais criança)
Trepo para a janela e consumo um cigarro
O fumo alstra-se pelo ar e sobe
Sobe com ele a minha mente
que larga em debandada por um qualquer mundo que deixei de conhecer
não encontro nada que me permita identificar onde estou
nem um ponto de referência
e agora sou eu que sou ar e me esfumaço por entre as nuvens e circulo livre...
Ah, que sensação de leveza! Não sou de ninguém e não me importo,
Não há planos ou regras...
E eis que chega a electricidade!
E corro e pulo e salto e vivencio e sou feliz e sorrio e e ...
Estou à janela e a cinza do cigarro cai-me no colo.
reparo que não combina bem com o tapete e isso incomoda-me
cria-me um aperto no peito que se instala e não me larga
Abro as portadas da janela
Descalço-me
(estranhamente, sinto-me um pouco mais criança)
Trepo para a janela e consumo um cigarro
O fumo alstra-se pelo ar e sobe
Sobe com ele a minha mente
que larga em debandada por um qualquer mundo que deixei de conhecer
não encontro nada que me permita identificar onde estou
nem um ponto de referência
e agora sou eu que sou ar e me esfumaço por entre as nuvens e circulo livre...
Ah, que sensação de leveza! Não sou de ninguém e não me importo,
Não há planos ou regras...
E eis que chega a electricidade!
E corro e pulo e salto e vivencio e sou feliz e sorrio e e ...
Estou à janela e a cinza do cigarro cai-me no colo.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
"I'd like to marry all of my close friends,
And live in a big house together by an angry sea.
Am I the devil's marbles don't move on without me
Who will be watching my body when I sleep?
Who will I believe in? "
O passo apressa-se ao caminhar
pelo etéreo jardim da Regaleira
e há uma mistura de sensações.
Fecho os olhos e já não é dia
é a lua que me enfrenta o olhar agora
Grande, amarela, ligeiramente dentada, mas ainda tão altiva
Chega-me o cheiro a endro que penetrou no salmão de ontem (lembraste?)
tornando-o mais doce, mais carinhoso, mais leve e fresco
E já não sei se é o vento ou o teu braço que me enlaçam pela cintura
levam-me para longe (tão, tão longe)
e há flores que se entrelaçam no meu cabelo tecendo tranças de doçura infinita
e são douradas as raízes que me envolvem os pés
e sou eu que sou uma árvore frondosa
("festina lente")
(olha que engraçado o vasito com o Dionísio e o Apolo)
(olha ali, tantos caracois - e os escargots que se chamavam lesmaçons?)
(e o D. Fuas na capela?)
(e o estilo manuelino patente em todo o lado?)
(e que bem que ficavam estas portas na minha sala de jantar)
(ai, mas que divinais desenhos os deste rapazito, o Magnini - parece que viveu uns tempitos à pala do Carvalho Monteiro, o magano)
e tu que continuas sem nunca estar
(vou buscar a receita da tarte de maçã)
And live in a big house together by an angry sea.
Am I the devil's marbles don't move on without me
Who will be watching my body when I sleep?
Who will I believe in? "
O passo apressa-se ao caminhar
pelo etéreo jardim da Regaleira
e há uma mistura de sensações.
Fecho os olhos e já não é dia
é a lua que me enfrenta o olhar agora
Grande, amarela, ligeiramente dentada, mas ainda tão altiva
Chega-me o cheiro a endro que penetrou no salmão de ontem (lembraste?)
tornando-o mais doce, mais carinhoso, mais leve e fresco
E já não sei se é o vento ou o teu braço que me enlaçam pela cintura
levam-me para longe (tão, tão longe)
e há flores que se entrelaçam no meu cabelo tecendo tranças de doçura infinita
e são douradas as raízes que me envolvem os pés
e sou eu que sou uma árvore frondosa
("festina lente")
(olha que engraçado o vasito com o Dionísio e o Apolo)
(olha ali, tantos caracois - e os escargots que se chamavam lesmaçons?)
(e o D. Fuas na capela?)
(e o estilo manuelino patente em todo o lado?)
(e que bem que ficavam estas portas na minha sala de jantar)
(ai, mas que divinais desenhos os deste rapazito, o Magnini - parece que viveu uns tempitos à pala do Carvalho Monteiro, o magano)
e tu que continuas sem nunca estar
(vou buscar a receita da tarte de maçã)
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Deambulando pelas ruas de Paris, não pude deixar de pensar o quanto me fui diluindo nas pessoas que fui conhecendo (Gare de L'Est), de certa forma, (Boulevard Strasbourg) fui perdendo a essência de mim, imiscuindo-me de outros (metro de Chateau d'Eau). Trouxe-me tanto e tirou-me mais (oh, é a Rue des Lombards). Como uma aranha (Chatelet, é Chatelet lá ao fundo?) fui tecendo o que era meu e misturando-o com o que me rodeava. Vermelho (Pont Neuf), branco, azul, laranja(oops, era a Pont des Artistes), violeta, violeta, violeta. Hematoma. Carne. Mais vemelho. Negro. Não me encontro. Game over (wrong way again).
She's lost control - Joy Division
Perco-me nas palavras que te expressam
e apetece-me expremer-te a alma
chegar lá sem que me comas o corpo
Agora é só meu
Ninguém mo tira, ninguém
lhe toca
A sinceridade das vontades
denuncia-se na alteração
dos silêncios que se abandonam,
quando tal se considera necessário.
A carne rasga-se mas todas as defesas se mantêm.
Imprimo-te hematomas, na esperança
de te impregnar na pele o meu sentimento.
Mas já és tão meu,
a forma como te abandonas
nos meus braços denuncia-te.
Mas foges, foges tanto.
E eu já não te encontro.
e apetece-me expremer-te a alma
chegar lá sem que me comas o corpo
Agora é só meu
Ninguém mo tira, ninguém
lhe toca
A sinceridade das vontades
denuncia-se na alteração
dos silêncios que se abandonam,
quando tal se considera necessário.
A carne rasga-se mas todas as defesas se mantêm.
Imprimo-te hematomas, na esperança
de te impregnar na pele o meu sentimento.
Mas já és tão meu,
a forma como te abandonas
nos meus braços denuncia-te.
Mas foges, foges tanto.
E eu já não te encontro.
Je t'aime.
Que vazias palavras já
tão desprovidas de sentido,
repetidas até ao infinito,
Seine acima e abaixo,
ponte atrás de ponte
em cada ridículo recanto pseudo-romântico
Life imitates art.
E todos os dias
no canal de St Martin
circulam os casais
carregando o seu ar
I don't care
que já no escuro, ao som
de 'Delicate' se atiram contra as paredes
para invocar uma paixão
que constroem entre os pequenos
instantes que o trabalho (árduo)
não lhes ocupa.
Que vazias palavras já
tão desprovidas de sentido,
repetidas até ao infinito,
Seine acima e abaixo,
ponte atrás de ponte
em cada ridículo recanto pseudo-romântico
Life imitates art.
E todos os dias
no canal de St Martin
circulam os casais
carregando o seu ar
I don't care
que já no escuro, ao som
de 'Delicate' se atiram contra as paredes
para invocar uma paixão
que constroem entre os pequenos
instantes que o trabalho (árduo)
não lhes ocupa.
The future undetected...
Not a fcking clue!
E a náusea
que me atravessa o espírito
leva-me outra vez
ao teu corpo
tantas vezes
desprezado
(and the music),
que se arrasta pela casa
apesar da sua aparência
tão leve, tão etérea, tão sublime, tão minha.
E os sentimentos violeta
apoderam-se do ecrã de TV,
que absorve a minha e a tua
atenção, como pequeninos cometas
que passam sem
sentir, violar, tratar ou magoar.
Pff, que merda somos.
Not a fcking clue!
E a náusea
que me atravessa o espírito
leva-me outra vez
ao teu corpo
tantas vezes
desprezado
(and the music),
que se arrasta pela casa
apesar da sua aparência
tão leve, tão etérea, tão sublime, tão minha.
E os sentimentos violeta
apoderam-se do ecrã de TV,
que absorve a minha e a tua
atenção, como pequeninos cometas
que passam sem
sentir, violar, tratar ou magoar.
Pff, que merda somos.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
quinta-feira, 15 de julho de 2010
segunda-feira, 12 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
domingo, 4 de julho de 2010
Lunario - Al Berto
"Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge."
quinta-feira, 1 de julho de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Bon Iver - Hazelton
settle up you're calling up the pain
sitting dead the sinker and the string
you came, you saw, you sawed her brain
cut out all the parts that held your stain
sitting clad you're feeling wild to blame
she's crying as you're climbing down your claim
sitting up you're counting up your names
seen enough to bend him off the frame
you came you saw you sawed her brain
cut out all the parts that held your stain
you clipped you clawed to no applause
you lost the will to ___ the lying off
so try to be somebody
so try to feel somebody
so try to leave somebody
so hard to be somebody
(where can you run) x 8
so try to be somebody
so try to feel somebody
so try to leave somebody
so try to be somebody
sitting dead the sinker and the string
you came, you saw, you sawed her brain
cut out all the parts that held your stain
sitting clad you're feeling wild to blame
she's crying as you're climbing down your claim
sitting up you're counting up your names
seen enough to bend him off the frame
you came you saw you sawed her brain
cut out all the parts that held your stain
you clipped you clawed to no applause
you lost the will to ___ the lying off
so try to be somebody
so try to feel somebody
so try to leave somebody
so hard to be somebody
(where can you run) x 8
so try to be somebody
so try to feel somebody
so try to leave somebody
so try to be somebody
terça-feira, 15 de junho de 2010
sábado, 12 de junho de 2010
quarta-feira, 2 de junho de 2010
domingo, 23 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
The national - High violet
Devia pôr aqui a letra de todas as músicas para fazer jus a este álbum...
Meu Deus! Obrigada, The National por abandonarem o exuberante e maravilhoso rumo que velejaram até agora para seguirem neste caminho!
Meu Deus! Obrigada, The National por abandonarem o exuberante e maravilhoso rumo que velejaram até agora para seguirem neste caminho!
The National - Sorrow
Sorrow found me when I was young,
Sorrow waited, sorrow won.
Sorrow that put me on the pills,
It's in my honey it's in my milk.
It's only about half a heart alone
On the water,
Cover me in rag and bones, sympathy.
Cause I don't wanna get over you.
I don't wanna get over you.
Sorrows my body on the waves
Sorrows a girl inside my cage
Didn't I see sorrow build?
It's in my honey, it's in my milk.
It's only my half of heart alone,
On the water,
Cover me in rag and bones, sympathy.
Cause I don't wanna get over you.
I don't wanna get over you.
It's only my half of heart alone,
On the water,
Cover me in rag and bones, sympathy.
Cause I don't wanna get over you.
I don't wanna get over you.
És parvo se dizes que isto é mau... Ou menos bom...
Sorrow waited, sorrow won.
Sorrow that put me on the pills,
It's in my honey it's in my milk.
It's only about half a heart alone
On the water,
Cover me in rag and bones, sympathy.
Cause I don't wanna get over you.
I don't wanna get over you.
Sorrows my body on the waves
Sorrows a girl inside my cage
Didn't I see sorrow build?
It's in my honey, it's in my milk.
It's only my half of heart alone,
On the water,
Cover me in rag and bones, sympathy.
Cause I don't wanna get over you.
I don't wanna get over you.
It's only my half of heart alone,
On the water,
Cover me in rag and bones, sympathy.
Cause I don't wanna get over you.
I don't wanna get over you.
És parvo se dizes que isto é mau... Ou menos bom...
domingo, 18 de abril de 2010
Someone somewhere
Life would be some much easier
if one wouldn't try to run away
from the little boxes...
Porque não um depósito de leite podre?
Porque não uma mente ignorada?
Porque não abdicar de quem se é?
Just take another pill
if one wouldn't try to run away
from the little boxes...
Porque não um depósito de leite podre?
Porque não uma mente ignorada?
Porque não abdicar de quem se é?
Just take another pill
Emiliana Torrini
It might have been a while
Since you've been loved
Like you should be loved
It might have been a while
Since you've been kissed
Like you should be kissed
In tender loving arms
Might be something you miss
Well summerbreeze is blowing through your window
And summerbreeze is blowing through your hair
And something in your eyes that you cannot disguise
Don't tell me it ain't there
It might have been a while
Since you've been loved
By one who really loves you
It might have been a while
Since you could trust
That someone really cares
When people like us
Meant to go 'round in pairs
Summerbreeze is blowing through your window
And summerbreeze is blowing through your hair
Something in your eyes that took me by surprise
Don't tell me that it ain't there
Since you've been loved
Like you should be loved
It might have been a while
Since you've been kissed
Like you should be kissed
In tender loving arms
Might be something you miss
Well summerbreeze is blowing through your window
And summerbreeze is blowing through your hair
And something in your eyes that you cannot disguise
Don't tell me it ain't there
It might have been a while
Since you've been loved
By one who really loves you
It might have been a while
Since you could trust
That someone really cares
When people like us
Meant to go 'round in pairs
Summerbreeze is blowing through your window
And summerbreeze is blowing through your hair
Something in your eyes that took me by surprise
Don't tell me that it ain't there
domingo, 28 de março de 2010
Álvaro de Campos
~ Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Miguel-Manso
SOBREROSEIRA
olho da janela a labareda das roseiras
recebo no quarto a vinícola sucessão dos anos
incluo no poema um reflexo aludir de taninos
remoo os frutos a redondez do texto no viço
dos aposentos
insisto no escusado, mal pago, fantasioso
exercício da beleza
(ando a perguntar-me... estará tão surpreendido com o elogio ao seu talento que tenta desperdiçá-lo?)
olho da janela a labareda das roseiras
recebo no quarto a vinícola sucessão dos anos
incluo no poema um reflexo aludir de taninos
remoo os frutos a redondez do texto no viço
dos aposentos
insisto no escusado, mal pago, fantasioso
exercício da beleza
(ando a perguntar-me... estará tão surpreendido com o elogio ao seu talento que tenta desperdiçá-lo?)
Miguel-Manso
II - ORLANDO PANTERA
I am a professional
e dançámos
lentos e digestivos
mas tentemos antes passar
o dia a limpo:
o Peugeot 205 vermelho embalado no auto-
-rádio a praia pequena a seguir ao Guincho
deserta
o teu peito nu mulato
contra as ondas o riso ladrado
da cadela entrando e não entrando
no mar
as rochas o mexilhão a navalha
o regresso aos poucos a tua casa
coentros água doce tachos
o lume
onde cozeste o pão
e que ateaste usando as páginas da lista telefónica
- queimando toda a rede fixa de Carcavelos -
o pássaro
morto na escrivaninha
o desenho a meio
lugares imaginários (nem deve sequer ter entrada)
limitava-me a marcar em algumas folhas
uns insuspeitos carimbos
que comprara
em lugar das académicas vaias
havia para nós, Joana, músicas
I am a professional
e dançámos
lentos e digestivos
mas tentemos antes passar
o dia a limpo:
o Peugeot 205 vermelho embalado no auto-
-rádio a praia pequena a seguir ao Guincho
deserta
o teu peito nu mulato
contra as ondas o riso ladrado
da cadela entrando e não entrando
no mar
as rochas o mexilhão a navalha
o regresso aos poucos a tua casa
coentros água doce tachos
o lume
onde cozeste o pão
e que ateaste usando as páginas da lista telefónica
- queimando toda a rede fixa de Carcavelos -
o pássaro
morto na escrivaninha
o desenho a meio
lugares imaginários (nem deve sequer ter entrada)
limitava-me a marcar em algumas folhas
uns insuspeitos carimbos
que comprara
em lugar das académicas vaias
havia para nós, Joana, músicas
terça-feira, 23 de março de 2010
Santo Agostinho ( de "Santo Súbito" de Miguel-Manso
"não estava ainda e amor, tão só enamorado pela ideia e que avidez eu tinha em amar o quê, em amar o amor"
e depois conheci-te...
e depois conheci-te...
segunda-feira, 15 de março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
Heilige Tod - Manuel de Freitas
Não é uma fotografia artística.
Se fosse, não falaria dela.
Estou ao lado do meu avô,
pareço feliz e ele também,
encostados a sorrir, debaixo
de uma buganvília. A alegria
dele é simples, muito de avô sentado
de chapéu de feltro antigo.
A minha, por sua vez, segura
na mão a caixa de soldados nazis
que matavam ou morriam,
obedecendo a uma inocente decisão.
Ainda existirão soldadinhos?
Agora, com a idade que
tenho na mesma fotografia,
pegam numa arma e matam
porque sim, dispensando intermediários,
simulacros, lúdicas simulações.
Terão talvez maior razão, não sei.
Têm, seguramente, uma eficácia maior:
matam em vez de quererem matar.
E é belo, sempre o soubemos,
este paiol de esterco chamado humanidade.
Ninguém, da fotografia, sobreviveu.
Se fosse, não falaria dela.
Estou ao lado do meu avô,
pareço feliz e ele também,
encostados a sorrir, debaixo
de uma buganvília. A alegria
dele é simples, muito de avô sentado
de chapéu de feltro antigo.
A minha, por sua vez, segura
na mão a caixa de soldados nazis
que matavam ou morriam,
obedecendo a uma inocente decisão.
Ainda existirão soldadinhos?
Agora, com a idade que
tenho na mesma fotografia,
pegam numa arma e matam
porque sim, dispensando intermediários,
simulacros, lúdicas simulações.
Terão talvez maior razão, não sei.
Têm, seguramente, uma eficácia maior:
matam em vez de quererem matar.
E é belo, sempre o soubemos,
este paiol de esterco chamado humanidade.
Ninguém, da fotografia, sobreviveu.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Alejandra Pizarnik
no
las palabras
no hacen el amor
si digo agua ?beberé?
si digo pan ?comeré?
P.S: te quiero
las palabras
no hacen el amor
si digo agua ?beberé?
si digo pan ?comeré?
P.S: te quiero
Alejandra Pizarnik - Sentido de su ausencia
Si yo me atrevo
a mirar y a decir
es por su sombra
unida tan suave
a mi nombre
allá lejos
en la lluvia
en mi memoria
por su rostro
que ardiendo en mi poema
dispersa hermosamente
un perfume
a amado rostro desaparecido
a mirar y a decir
es por su sombra
unida tan suave
a mi nombre
allá lejos
en la lluvia
en mi memoria
por su rostro
que ardiendo en mi poema
dispersa hermosamente
un perfume
a amado rostro desaparecido
Alejandra Pizarnik - En tu aniversario
Recibe este rostro mío, mudo, mendigo.
Recibe este amor que te pido.
Recibe lo que hay en mí que eres tú.
Recibe este amor que te pido.
Recibe lo que hay en mí que eres tú.
Alejandra Pizarnik - 5
por un minuto de vida breve
única de ojos abiertos
por un minuto de ver
en el cerebro flores pequeñas
danzando como palabras en la boca de un mudo
única de ojos abiertos
por un minuto de ver
en el cerebro flores pequeñas
danzando como palabras en la boca de un mudo
Alejandra Pizarnik - 3
sólo la sed
el silencio
ningún encuentro
cuídate de mí amor mío
cuídate de la silenciosa en el desierto
de la viajera con el vaso vacío
y de la sombra de su sombra.
el silencio
ningún encuentro
cuídate de mí amor mío
cuídate de la silenciosa en el desierto
de la viajera con el vaso vacío
y de la sombra de su sombra.
Alejandra Pizarnik - La carencia
Yo no sé de pájaros,
no conozco la historia del fuego.
Pero creo que mi soledad debería tener alas.
no conozco la historia del fuego.
Pero creo que mi soledad debería tener alas.
Alejandra Pizarnik - La jaula
Afuera hay sol.
No es más que un sol
pero los hombres lo miran y después cantan.
Yo no sé del sol.
Yo sé de la melodía del ángel
y el sermón caliente
del último viento.
Sé gritar hasta el alba
cuando la muerte se posa desnuda
en mi sombra.
Yo lloro debajo de mi nombre,
Yo agito pañuelos en la noche
y barcos sedientos de realidad
bailan conmigo.
Yo oculto clavos
para escarnecer a mis sueños enfermos.
Afuera hay sol.
Yo me visto de cenizas.
No es más que un sol
pero los hombres lo miran y después cantan.
Yo no sé del sol.
Yo sé de la melodía del ángel
y el sermón caliente
del último viento.
Sé gritar hasta el alba
cuando la muerte se posa desnuda
en mi sombra.
Yo lloro debajo de mi nombre,
Yo agito pañuelos en la noche
y barcos sedientos de realidad
bailan conmigo.
Yo oculto clavos
para escarnecer a mis sueños enfermos.
Afuera hay sol.
Yo me visto de cenizas.
Charles Bukowski - The Laughing Heart
your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Levado furtivamente de uma mesa no Teatro "A Barraca" - de Benédicte Houart
deixa-me dizer-te que estás enganado
para escrever bem
não é preciso ser tão maluco
como o leopoldo maria
(é um elogio, meu caro
até porque o mundo não sofre propriamente de extrema sanidade)
nem tão pouco como a maior parte dos outros
(milagre, santíssima trindade)
basta ser o suficiente
maluco q.b.
o resto, como sempre, é escrever, isto é
berrar na rua, mas como quem murmura.
para escrever bem
não é preciso ser tão maluco
como o leopoldo maria
(é um elogio, meu caro
até porque o mundo não sofre propriamente de extrema sanidade)
nem tão pouco como a maior parte dos outros
(milagre, santíssima trindade)
basta ser o suficiente
maluco q.b.
o resto, como sempre, é escrever, isto é
berrar na rua, mas como quem murmura.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
de Joaquim Manuel Magalhães
Vai chegar a manhã.
A luz treme nos arbustos.
Algas, seixos, limos
guiam pelas fragas
a água sem fundura,
o ardor levantino do anil.
Ouves correr poalhas de bruma?
Silêncios do vento que renasce?
Seguro na mão que não seguras
uma lâmina de fogo, um erro
de árvores e olhas-me.
Pouso os lábios no teu pulso
para sentir o coração.
É tão perigoso ser feliz.
A luz treme nos arbustos.
Algas, seixos, limos
guiam pelas fragas
a água sem fundura,
o ardor levantino do anil.
Ouves correr poalhas de bruma?
Silêncios do vento que renasce?
Seguro na mão que não seguras
uma lâmina de fogo, um erro
de árvores e olhas-me.
Pouso os lábios no teu pulso
para sentir o coração.
É tão perigoso ser feliz.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
"Lagar" de Manuel Freitas
As mães, e até as que não eram mães,
achavam salutar que mergulhasses no mosto,
na promessa apenas desse vinho tinto
que ao enrijecer os músculos
despertava a alma para infâmias e paixões.
Que diriam agora, se o pudessem dizer,
essas mães? Deixa, qualquerabismo serve:
Perdeste a infância e não encontraste o mundo.
in Beau Séjour
achavam salutar que mergulhasses no mosto,
na promessa apenas desse vinho tinto
que ao enrijecer os músculos
despertava a alma para infâmias e paixões.
Que diriam agora, se o pudessem dizer,
essas mães? Deixa, qualquerabismo serve:
Perdeste a infância e não encontraste o mundo.
in Beau Séjour
domingo, 31 de janeiro de 2010
Lhasa de sela - Por eso me quedo
Asi ando yo
Cantando aun mis penas
queriendo que me ames
para mi soledad
Y hasta que yo te quiera
Que quieres que te cante?
Por eso me quedo
Ay Ay Ay hasta el final
Y asi amo yo
con rimas tan torcidas
buscando disonancias
Pa'mi nueva cancion
Y hasta que yo te quiera
Que quieres que te cante?
Por eso me quedo
Ay Ay Ay hasta el final
Y asi amo yo
con rimas tan torcidas
buscando disonancias
Pa'mi nueva cancion
Y hasta que yo te quiera
Que quieres que te cante?
Y hasta que yo te quiera
Que vale lo que cante?
Por eso me quedo
Ay Ay Ay hasta el final
Cantando aun mis penas
queriendo que me ames
para mi soledad
Y hasta que yo te quiera
Que quieres que te cante?
Por eso me quedo
Ay Ay Ay hasta el final
Y asi amo yo
con rimas tan torcidas
buscando disonancias
Pa'mi nueva cancion
Y hasta que yo te quiera
Que quieres que te cante?
Por eso me quedo
Ay Ay Ay hasta el final
Y asi amo yo
con rimas tan torcidas
buscando disonancias
Pa'mi nueva cancion
Y hasta que yo te quiera
Que quieres que te cante?
Y hasta que yo te quiera
Que vale lo que cante?
Por eso me quedo
Ay Ay Ay hasta el final
sábado, 30 de janeiro de 2010
Pedaços de vinil
Devia ser o disco mais ouvido:
a Quinta Sinfonia, numa gravação
de Klemperer. As manhãs
e as tardes auguravam um futuro
melhor, prendados costumes
que depressa perdi. Já então olhava
para a taberna da Ana,
enchendo a janela do meu quarto.
Tinha medo da sombra, do silêncio,
adivinhando em cada passo o monstro
que me habitava. E lia, para não pensar,
desacreditamos escritores franceses.
Um dia, de tanto o amar,
peguei no disco e quebrei-o
em pequenos pedaços de vinil
- para doerem mais, melhor.
Mantive, não sei bem porquê,
a dura capa de cartão,
essa fúnebre alegria da infância.
E o que sobrou do disco foi parar
ao ribeiro junto à casa dos meus pais.
Mais tarde, o ribeiro com hortas
de domingo à volta foi sufocado pelo terror
de um aldeamento, versão provinciana
de condomínio fechao, num mundo
em que são cada vez mais as portas.
Beethoven, esse, quase deixou
de me comover, soterrado como as rãs
pelas mãos invisíveis de quem mata.
O que me comove, passado tanto
tempo, é perceber que fiz a esse disco
o mesmo que faço e volto a fazer
aos corpos que julgo amar:
parti-los, muito devagar, para
que doam sempre um pouco mais.
Manuel de Freitas
a Quinta Sinfonia, numa gravação
de Klemperer. As manhãs
e as tardes auguravam um futuro
melhor, prendados costumes
que depressa perdi. Já então olhava
para a taberna da Ana,
enchendo a janela do meu quarto.
Tinha medo da sombra, do silêncio,
adivinhando em cada passo o monstro
que me habitava. E lia, para não pensar,
desacreditamos escritores franceses.
Um dia, de tanto o amar,
peguei no disco e quebrei-o
em pequenos pedaços de vinil
- para doerem mais, melhor.
Mantive, não sei bem porquê,
a dura capa de cartão,
essa fúnebre alegria da infância.
E o que sobrou do disco foi parar
ao ribeiro junto à casa dos meus pais.
Mais tarde, o ribeiro com hortas
de domingo à volta foi sufocado pelo terror
de um aldeamento, versão provinciana
de condomínio fechao, num mundo
em que são cada vez mais as portas.
Beethoven, esse, quase deixou
de me comover, soterrado como as rãs
pelas mãos invisíveis de quem mata.
O que me comove, passado tanto
tempo, é perceber que fiz a esse disco
o mesmo que faço e volto a fazer
aos corpos que julgo amar:
parti-los, muito devagar, para
que doam sempre um pouco mais.
Manuel de Freitas
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
The Postal Service - Such Great Heights
I am thinking it's a sign that the freckles
In our eyes are mirror images and when
We kiss they're perfectly aligned
And I have to speculate that God himself
Did make us into corresponding shapes like
Puzzle pieces from the clay
True, it may seem like a stretch, but
Its thoughts like this that catch my troubled
Head when you're away when I am missing you to death
When you are out there on the road for
Several weeks of shows and when you scan
The radio, I hope this song will guide you home
They will see us waving from such great
Heights, 'come down now,' they'll say
But everything looks perfect from far away,
'come down now,' but we'll stay...
I tried my best to leave this all on your
Machine but the persistent beat it sounded
Thin upon listening
That frankly will not fly. you will hear
The shrillest highs and lowest lows with
The windows down when this is guiding you home
In our eyes are mirror images and when
We kiss they're perfectly aligned
And I have to speculate that God himself
Did make us into corresponding shapes like
Puzzle pieces from the clay
True, it may seem like a stretch, but
Its thoughts like this that catch my troubled
Head when you're away when I am missing you to death
When you are out there on the road for
Several weeks of shows and when you scan
The radio, I hope this song will guide you home
They will see us waving from such great
Heights, 'come down now,' they'll say
But everything looks perfect from far away,
'come down now,' but we'll stay...
I tried my best to leave this all on your
Machine but the persistent beat it sounded
Thin upon listening
That frankly will not fly. you will hear
The shrillest highs and lowest lows with
The windows down when this is guiding you home
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Asunción de tí
Quién hubiera creído que se hallaba
sola en el aire, oculta,
tu mirada.
Quién hubiera creído esa terrile
ocasión de nacer puesta al alcance
de mi suerte y mis ojos,
y que tú y yo iríamos, despojados,
de todo bien, de todo mal, de todo,
a aherrojarnos en el mismo silencio,
a inclinarnos sobre la misma fuente
para vernos y vernos
mutuamente espiados en el fondo,
temblando desde el agua,
descubriendo, pretendiendo alcanzar
quién eras tú detrás de esa cortina,
quién era yo detrás de mí.
Y todavía no hemos visto nada.
Espero que alguién venga, inexorable,
siempre temo y espero,
y acabe por nombrarnos en un signo,
por situranos en alguna estación
por dejarnos allí, comos dos gritos
de asombro.
Pero nunca será. Tú no eres ésa,
yo no soy ése, ésos, los que fuimos
antes de ser nosotros.
Eras sí pero ahora
suenas un poco a mí.
Era sí pero ahora
vengo un poco de ti.
No demasiado, solamente un toque,
acaso un leve rasgo familiar,
pero que fuerce a todos a abarcarnos
a ti y a mí cuando nos piensen solos.
sola en el aire, oculta,
tu mirada.
Quién hubiera creído esa terrile
ocasión de nacer puesta al alcance
de mi suerte y mis ojos,
y que tú y yo iríamos, despojados,
de todo bien, de todo mal, de todo,
a aherrojarnos en el mismo silencio,
a inclinarnos sobre la misma fuente
para vernos y vernos
mutuamente espiados en el fondo,
temblando desde el agua,
descubriendo, pretendiendo alcanzar
quién eras tú detrás de esa cortina,
quién era yo detrás de mí.
Y todavía no hemos visto nada.
Espero que alguién venga, inexorable,
siempre temo y espero,
y acabe por nombrarnos en un signo,
por situranos en alguna estación
por dejarnos allí, comos dos gritos
de asombro.
Pero nunca será. Tú no eres ésa,
yo no soy ése, ésos, los que fuimos
antes de ser nosotros.
Eras sí pero ahora
suenas un poco a mí.
Era sí pero ahora
vengo un poco de ti.
No demasiado, solamente un toque,
acaso un leve rasgo familiar,
pero que fuerce a todos a abarcarnos
a ti y a mí cuando nos piensen solos.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Para um dilema existencial de alguém que adoro...
Little boxes on the hillside
Little boxes made of ticky tacky
Little boxes
Little boxes
Little boxes all the same
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same
And the people in the houses all go to the university
And they all get put in boxes, little boxes all the same
And there's doctors and there's lawyers
And business executives
And they're all made out of ticky tacky and they all look just the same
And they all play on the golf course and drink their martini dry
And they all have pretty children and the children go to school
And the children go to summer camp
And then to the university
And they all get put in boxes, and they all come out the same
And the boys go into business and marry and raise a family
And they all get put in boxes, little boxes all the same
There's a green one, and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same
Little boxes made of ticky tacky
Little boxes
Little boxes
Little boxes all the same
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same
And the people in the houses all go to the university
And they all get put in boxes, little boxes all the same
And there's doctors and there's lawyers
And business executives
And they're all made out of ticky tacky and they all look just the same
And they all play on the golf course and drink their martini dry
And they all have pretty children and the children go to school
And the children go to summer camp
And then to the university
And they all get put in boxes, and they all come out the same
And the boys go into business and marry and raise a family
And they all get put in boxes, little boxes all the same
There's a green one, and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Assinar:
Postagens (Atom)